sexta-feira, 25 de abril de 2014

(2) 25 de Abril:40 anos

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sofia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

terça-feira, 22 de abril de 2014

Vendas Novas: 40 anos do 25 de Abril

No município de Vendas Novas, as comemorações oficiais dos 40 anos do 25 de Abril de 1974 seguirão o programa seguinte:


Quem preferir comemorar em Lisboa pode consultar um extenso programa no site oficial do município (aqui). Se preferir não atravessar o rio Tejo e ficar por Almada (onde os militares da EPA defenderam o Terreiro do Paço no dia 25 e libertaram depois os presos na Trafaria), o programa está disponível aqui. Outra alternativa mais próxima de Vendas Novas é no vizinho município de Montemor-o-Novo, onde o programa pode ser consultado aqui.

domingo, 20 de abril de 2014

Páscoa

Karl Richter conduzindo a Münchener Bach Orchester na primeira parte da "Paixão Segundo São Matheus" de Johann Sebastian Bach.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Bento de Jesus Caraça

Assinalam-se hoje 113 anos sobre o nascimento de Bento de Jesus Caraça: alentejano, matemático, professor, politico. Uma personalidade brilhante no seu pensamento e acção. Certamente muitas vezes aqui irei falar dele.
Bento de Jesus Caraça nasceu em Vila Viçosa a 18 de Abril de 1901. Filho de trabalhadores rurais revelou desde muito cedo uma grande capacidade e rapidez de aprendizagem, que fizeram com que os seus estudos fossem apoiados pela família Albuquerque, de quem o pai de Caraça era feitor, em Vila Viçosa. Completou a escola primária em 1911, tendo depois frequentado o Liceu de Sá da Bandeira, em Santarém. Aos 13 anos mudou-se para Lisboa, onde concluiu o ensino secundário em 1918, no Liceu Pedro Nunes.

Em 1918 ingressou no Instituto Superior de Comércio (actual Instituto Superior de Economia e Gestão - ISEG). Concluída a licenciatura iniciou carreira académica, tendo logo em 1927 sido nomeado professor extraordinário e, em 28 de Dezembro de 1930 foi nomeado professor catedrático da cadeira de "Matemáticas Superiores- Álgebra Superior, Princípios e Análise Infinitesimal, Geometria Analítica”. Manteve a regência desta cadeira até à sua demissão compulsiva em 7 de Outubro de 1946. Fundou a "Biblioteca Cosmos" e foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática.

A par da sua carreira académica, Bento de Jesus Caraça desenvolveu uma intensa actividade política contra a ditadura de Salazar, quer a nível clandestino, quer em movimentos legais ou semi-legais. Militou no PCP, foi membro da Liga Portuguesa contra a Guerra e o Fascismo, do MUNAF (Movimento Nacional de Unidade Anti-Fascista) e do MUD (Movimento de Unidade Democrática). Em Setembro de 1946 foi-lhe instaurado um processo disciplinar, na sequência da assinatura de um manifesto contra a admissão de Portugal na ONU, tendo nessa sequência sido expulso da cátedra universitária, sendo-lhe proibida a docência, no ensino público ou privado. Em Outubro desse ano foi preso pela PIDE, o que aconteceu de novo em Dezembro. Em 1948 foi preso pela terceira vez, juntamente com outros membros do MUD. Interveio activamente na preparação da candidatura de Norton de Matos à Presidência da República. Faleceu em sua casa, a 25 de Junho de 1948, contava 47 anos.

Como referem alguns estudiosos do seu pensamento e vida: “Há homens que pela sua acção, interpretando os anseios profundos de libertação dos povos, projectam-se muito para além da sua existência. “ Assim foi Bento de Jesus Caraça, um homem forte no pensamento e na acção, sempre de uma coerência “harmoniosa”.                                                
“ e não receio o erro é porque estou sempre pronto a corrigi-lo

Sexta-feira Santa

Porque hoje é sexta-feira Santa:

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra

(Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Hoje anda à roda!

Pois é, hoje é o grande dia! finalmente os contribuintes portugueses (apenas os que pedem fractura com nº!) vão ver consagrado um direito inalienável da democracia e da liberdade: o direito ao sorteio de um automóvel de alta cilindrada dado (?) pelo fisco, ou melhor, com o dinheiro de todos nós.


Algumas perguntas me ocorrem: não seria mais simples o Estado retribuir o mérito aos contribuintes bem comportados através da dedução em proveito de quem efectivamente pede o talão com NIF? Será assim tão complexo, como dizem por aí? Mas mais: porque é que o Estado arranjou um mecanismo simples e eficaz de eu (e mais uns milhões de portugueses) não fugir (mos) aos impostos (se não pagar no dia seguinte ou tenho o fisco à porta ou tenho o salário penhorado) e, ao contrário, para uma parte dos portugueses e das empresas, que com toda a legitimidade exercem a sua actividade, o Estado tem que fazer sorteios de automóveis para que paguem impostos? Porque tenho eu, contribuinte indefeso e cumpridor, trabalhar à borla para o Estado, de forma um tanto pidesca, pedindo fracturas (para acumular) por tudo e por nada? Cheira-me a big brother com saudosismos do 24!
A este propósito, vale a pena ler a rábula seguinte no blogue entre as brumas da memória:
" Pedir NIF na factura para habilitar-se a uma viatura de alta cilindrada será apenas o início. Em 2019: Vai ser assim:
- Telefonista: Pizza Hut, boa noite!
- Cliente: Boa noite, quero encomendar Pizzas.
- Telefonista: Pode-me dar o seu NIF?
- Cliente: Sim, o meu Número de Identificação Nacional é o 6102 1993 8456 5463 2107.
- Telefonista: Obrigada, Sr. Lacerda. O seu endereço é na Avenida Paes de Barros, 19, Apartamento 11, e o número do seu telefone é o 21549 4236, certo? O telefone do seu escritório na Liberty Seguros, é o 21 574 52 30 e o seu telemóvel é o 96 266 25 66, correcto?
- Cliente: Como é que conseguiu todas essas informações?
- Telefonista: Porque estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
- Cliente: Ah, sim, é verdade! Quero encomendar duas Pizzas: uma QuatroQueijos e outra Calabresa.
- Telefonista: Talvez não seja boa ideia...
- Cliente: O quê...?
- Telefonista: Consta na sua ficha médica que o senhor sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a saúde.
- Cliente: Claro! Tem razão! O que é que sugere?
- Telefonista: Por que é que não experimenta a nossa Pizza Superlight, com Tofu e Rabanetes? O senhor vai adorar!
- Cliente: Como é que sabe que vou adorar?
... 
ler tudo aqui

segunda-feira, 14 de abril de 2014

(1) 25 de Abril: 40 anos

Ao percorrer a comunicação social destes últimos dias é fácil constatar as múltiplas noticias e rubricas sobre os 40 anos do 25 de Abril; confesso não ter visto nada de relevante: comemorações oficiais com programa paupérrimo, conferências, jantares e almoços, reportagens banais, artigos normais, aqui a li com algum aspecto interessante (como este!Rios ao Carmo)...todavia pouco para os 40 anos da Revolução dos Cravos.
Mais inquietante é a apologia do Estado Novo; dos elogios de Durão Barroso ao rigor do ensino no tempo da outra senhora, prontamente rebatidos aquiaqui e aqui, às sondagens feitas à medida sobre a seriedade dos políticos do "antigamente" (só que com estes simples pormenores percebemos melhor a "seriedade" das mesmas).
Voltando à essência do 25; a propósito, que belas imagens disponibilizadas por Alfredo Cunha sobre os acontecimentos do dia 25 de Abril de 1974. A imagem seguinte, uma das primeiras (ou a primeira!) sobre as movimentações da coluna de Salgueiro Maia no Terreiro do Paço, é bem representativa da luminosidade que acompanharia esse dia:
(fotografia de Alfredo Cunha, do site: www.alfredocunha.com)

sábado, 12 de abril de 2014

Sebastião da Gama

Durante a semana que passou cumpriram-se 90 anos sobre a data de nascimento de Sebastião da Gama, poeta e professor. Já aqui o recordei no Dia Mundial da Poesia, mas é oportuno e justo voltar a lembrar este grande poeta português.
Sebastião Artur Cardoso da Gama, de seu nome completo, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão no dia 10 de Abril de 1924 e viria a falecer a 7 de Fevereiro de 1952, vitima de tuberculose, contava apenas 27 anos.
Licenciado em Filologia Românica, foi professor de português em Lisboa, na Escola Industrial e Comercial Veiga Beirão, em Setúbal, na Escola Industrial e Comercial (hoje Escola Secundária Sebastião da Gama) e, em Estremoz, também na então Escola Industrial e Comercial.
Guardo sempre em local acessível o seu Diário, para ler e reler, um notável testemunho e reflexão sobre o ensino e a vida, admiravelmente actual, passados mais de 60 anos.


Sebastião da Gama foi um ser humano ímpar, um poeta extraordinário. Um pouco esquecido, é certo, mas sempre o eterno poeta da Arrábida, essa serra maravilhosa! A sua dedicação à serra inspirou, inclusive, a criação da primeira associação ambiental em Portugal, a LPN-Liga para a Protecção da Natureza. 
Creio que é adequado assinalar os noventa anos do seu nascimento, neste mês de Abril do ano de 2014, com o poema Meu País Desgraçado:

Meu país desgraçado!… 

E no entanto há Sol a cada canto
 
e não há Mar tão lindo noutro lado.
 
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
 
nem pássaros, nem águas…
 

Meu país desgraçado!…
 
Porque fatal engano?
 
Que malévolos crimes
 
teus direitos de berço violaram?
 

Meu Povo
 
de cabeça pendida, mãos caídas,
 
de olhos sem fé
 
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
 
a causa da miséria se te esconde.
 

E em nome dos direitos
 
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
 
fere-a sem dó
 
com o lume do teu antigo olhar.
 

Alevanta-te, Povo!
 
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
 
a calada censura
 
que te reclama filhos mais robustos!
 

Povo anémico e triste,
 
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
 
— olha a censura muda das mulheres!
 
Vai-te de novo ao Mar!
 
Reganha tuas barcas, tuas forças
 
e o direito de amar e fecundar
 
as que só por Amor te não desprezam! 

(Sebastião da Gama, publicado em Cabo da Boa Esperança, 1947)

domingo, 6 de abril de 2014

MLK

Na sexta-feira (4 de Abril) e ontem, ao percorrer alguns sítios da internet encontrei, inevitavelmente, muitas referências sobre os 46 anos do assassinato de Martin Luther King, que se cumpriram nesta data. Lembrei-me então do tributo desta canção dos anos 80 - MLK, do álbum "The Unforgettable Fire" dos U2:


Encontrei, ainda, duas referências interessantes e diferentes do restante que li por aí sobre o assunto:
- no blogue o tempo das cerejas 2 - Recordando os "Dez mistérios em Menphis"
- no blogue entre as brumas da memória - Luther King morreu num 4 de Abril e a PIDE proibiu uma homenagem

quarta-feira, 2 de abril de 2014

38 anos da Constituição da República Portuguesa

Completam-se, hoje 2 de Abril, trinta e oito anos sobre a aprovação e imediata promulgação da Constituição da República Portuguesa; um momento de extraordinário significado político e de grande alcance histórico no processo da Revolução do 25 de Abril de 1974. 
A Constituição de 1976 marcou uma clara e profunda diferença em relação a todas as anteriores Constituições portuguesas. Desde logo porque teve a sua origem num processo revolucionário e foi elaborada por uma Assembleia Constituinte eleita, por sufrágio directo e universal, em eleições livres e democráticas. A Constituinte foi eleita especificamente para esse efeito, pelos cidadãos maiores de 18 anos, no dia 25 de Abril de 1975 (um ano após a revolução), tendo sido feita a conversão de votos em mandatos de acordo com um sistema de representação proporcional. É esta marca genética, de cariz popular e revolucionário, assente numa vigorosa conjuntura de acção política e social, que permitiu romper definitivamente com o passado e consagrar no texto constitucional o fundamental das conquistas da revolução democrática. 
Para além disso, a Constituição de 1976 consagrou um amplo conjunto de direitos económicos, sociais e culturais: o direito ao trabalho, à segurança social, à saúde, à habitação, ao ambiente saudável, à educação, à proteção na infância, na juventude, na deficiência, na terceira idade. 
Não menos importante e no plano político, a Constituição de 1976 abandonou a concentração de poderes característica da ditadura e procurou ao mesmo tempo evitar os erros da 1ª República, promovendo a separação e a interdependência entre os órgãos de soberania. Ao mesmo tempo, a matriz da forma de Governo foi assumida através de um sistema misto parlamentar-presidencial, no qual a legitimidade de um Presidente e de um Parlamento, democraticamente eleitos, concorrem para uma efectiva responsabilidade política dos governos. Consagrou-se a independência do poder judicial, a autonomia regional da Madeira e dos Açores e do poder local democrático, que são outros elementos diferenciadoras e de grande identidade do regime democrático-constitucional de 1976. 


Aprovada ainda no calor dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975, a Constituição representou também um valioso factor de estabilização da situação política e da vida democrática do País, contrariando as forças e interesses que acalentavam a esperança de fazer retroceder e anular algumas das conquistas fundamentais da Revolução do 25 de Abril de 1974 que, como sabemos colocou um ponto final no longo e trágico período da ditadura do Estado Novo.
Não é fácil de entender que alguns falem hoje que a Constituição é motivo de “conflito geracional”, de “entraves ao desenvolvimento”, do “exercício da governação", etc – nada mais falso; como é sabido a Constituição, passados quase 40 anos da sua vigência, não foi em momento algum factor de perturbação nacional, bem pelo contrário, é no essencial o garante dos mais elementares direitos e deveres dos cidadãos deste País; nada do que negativo aconteceu nestes anos poderá, em algum momento, ser imputado à Constituição, por mais que isso custe aos mutiladores do actual regime democrático. Na verdade, a Constituição saída da Revolução de Abril de 1974 consagrou os mais nobres ideais republicanos, sendo, por isso, a mais republicana e democrática das Constituições portuguesas. Maltratada e tantas vezes "violada" por politicas falsas e cegas, urge por todas as razões defendê-la, em nome da República e da Democracia.