sábado, 12 de abril de 2014

Sebastião da Gama

Durante a semana que passou cumpriram-se 90 anos sobre a data de nascimento de Sebastião da Gama, poeta e professor. Já aqui o recordei no Dia Mundial da Poesia, mas é oportuno e justo voltar a lembrar este grande poeta português.
Sebastião Artur Cardoso da Gama, de seu nome completo, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão no dia 10 de Abril de 1924 e viria a falecer a 7 de Fevereiro de 1952, vitima de tuberculose, contava apenas 27 anos.
Licenciado em Filologia Românica, foi professor de português em Lisboa, na Escola Industrial e Comercial Veiga Beirão, em Setúbal, na Escola Industrial e Comercial (hoje Escola Secundária Sebastião da Gama) e, em Estremoz, também na então Escola Industrial e Comercial.
Guardo sempre em local acessível o seu Diário, para ler e reler, um notável testemunho e reflexão sobre o ensino e a vida, admiravelmente actual, passados mais de 60 anos.


Sebastião da Gama foi um ser humano ímpar, um poeta extraordinário. Um pouco esquecido, é certo, mas sempre o eterno poeta da Arrábida, essa serra maravilhosa! A sua dedicação à serra inspirou, inclusive, a criação da primeira associação ambiental em Portugal, a LPN-Liga para a Protecção da Natureza. 
Creio que é adequado assinalar os noventa anos do seu nascimento, neste mês de Abril do ano de 2014, com o poema Meu País Desgraçado:

Meu país desgraçado!… 

E no entanto há Sol a cada canto
 
e não há Mar tão lindo noutro lado.
 
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
 
nem pássaros, nem águas…
 

Meu país desgraçado!…
 
Porque fatal engano?
 
Que malévolos crimes
 
teus direitos de berço violaram?
 

Meu Povo
 
de cabeça pendida, mãos caídas,
 
de olhos sem fé
 
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
 
a causa da miséria se te esconde.
 

E em nome dos direitos
 
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
 
fere-a sem dó
 
com o lume do teu antigo olhar.
 

Alevanta-te, Povo!
 
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
 
a calada censura
 
que te reclama filhos mais robustos!
 

Povo anémico e triste,
 
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
 
— olha a censura muda das mulheres!
 
Vai-te de novo ao Mar!
 
Reganha tuas barcas, tuas forças
 
e o direito de amar e fecundar
 
as que só por Amor te não desprezam! 

(Sebastião da Gama, publicado em Cabo da Boa Esperança, 1947)

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