domingo, 22 de março de 2015

Os problemas da água

Hoje Dia Mundial da Água creio que o melhor que temos a fazer é recordar o Documentário (2008) premiado de Irena Salina, que investiga o que os especialistas consideram a questão política e ambiental mais importante do século XXI - a problemática da água. Salina constrói uma narrativa contra a crescente privatização, das cada vez menos abundantes reservas de água doce do mundo, focado na política, poluição, direitos humanos, e o surgimento de um cartel mundial dominador da água:

Bem a propósito, porque afinal a privatização da água em Portugal não é "um mero suponhamos", talvez seja mesmo uma próxima realidade, Relembrar ainda que: 

- Em 28 de Julho de 2010 a Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 64/292, declarou que o direito à água potável e ao saneamento é um direito humano essencial para o pleno gozo da vida e do exercício de todos os direitos humanos. Esta resolução foi aprovada por 122 países, com 41 abstenções, nos quais se incluem os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá, a Austrália e o Japão.

sábado, 21 de março de 2015

Dia Internacional contra a Discriminação Racial

É sempre oportuno não esquecer este dia, seja que de forma for, até porque, como diz o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, "todos os dias, pessoas de todas as idades suportam ódios, injustiças e humilhação devido à sua cor de pele, origem nacional ou étnica". Ban Ki-moon apela a que se aprenda com os "erros históricos", como é o caso do colonialismo ou de regimes segregacionista como o do apartheid, na África do Sul, para que se possa "erradicar o preconceito".
No ano em que a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial celebra meio século, ainda falta conquistar "a premissa de que todas as pessoas usufruem de direitos iguais e dignidade - independentemente da sua etnia".
Para que isso aconteça, o secretário-geral da ONU apela às nações que ratifiquem a convenção internacional e adotem "leis e políticas fortes que acabem com todas as formas de discriminação".
Recordo uma canção emblemática de Peter Gabriel (Biko):



A poesia das árvores

A poesia também tem o seu dia, é hoje, coincidente com o dia da árvore.
Eugénio de Andrade tinha a convicção que "Um poema ou uma árvore podem ainda sal­var o mundo." Não sabemos se é mesmo assim, mas certamente que um poema ou uma árvore ajudam muito a tornar o mundo melhor!

Vejamos como é bela a poesia das árvores:

Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-a
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
 António Ramos Rosa
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Vivam, apenas
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes.

Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.

Mas não queiram convencer os cardos
e transformar os espinhos
em rosas e canções.

E principalmente não pensem na morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.

Vivam, apenas.
A morte é para os mortos!
José Gomes Ferreira
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Árvores negras que falais ao meu ouvido,
Folhas que não dormis, cheias de febre,
Que adeus é este adeus que m despede
E este pedido sem fim que o vento perde
E esta voz que implora, implora sempre
Sem que ninguém lhe tenha respondido?
 Sophia de Mello Breyner Andresen
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Deus disse: "O Zambujeiro nasça".
Viril, rompeu da terra o Zambujeiro.
O tronco é o dum homem das montanhas.
São mãos de cavador seus ramos. Só as folhas,
Delicadas, suaves... Pela noita,
Quando tudo se cala, mesmo os pássaros,
O Zambujeiro canta...
(in Pelo Sonho é que vamos, Sebastião da Gama)
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Forte como um destino,
Calmo como um pastor,
A sarça ardente é quando o sol, a pino,
O inunda de seiva e de calor.
Barbas, rugas e veias
De gigante.
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante...
A um Carvalho, Miguel Torga
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As árvores como os livros têm folhas 
e margens lisas ou recortadas, 
e capas (isto é copas) e capítulos 
de flores e letras de oiro nas lombadas. 

E são histórias de reis, histórias de fadas, 
as mais fantásticas aventuras, 
que se podem ler nas suas páginas, 
no pecíolo, no limbo, nas nervuras. 

As florestas são imensas bibliotecas, 
e até há florestas especializadas, 
com faias, bétulas e um letreiro 
a dizer: «Floresta das zonas temperadas». 

É evidente que não podes plantar 
no teu quarto, plátanos ou azinheiras. 
Para começar a construir uma biblioteca, 
basta um vaso de sardinheiras. 
Jorge Sousa Braga
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Era uma árvore no passeio
e fosse tempo claro ou feio,
havia uma paz de agasalho
dependurada em cada galho.

E foi vivendo. Viver gasta
músculo e flama de ginasta,
quanto mais uma arvorezinha
meio garota-de-sombrinha.

Carlos Drummond de Andrade
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A solidão da árvore sozinha 
no campo do verão alentejano
é só mais solitária do que a minha
e teima ali na terra todo o ano
quando nem chuva ou vento já lhe fazem companhia
e o calor é tão triste como o é somente a alegria
Eu passo e passo muito mais que o próprio dia.
Ruy Belo

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Pablo Neruda
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Árvores do Alentejo
Horas mortas? Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido? e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro e giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
pedindo a Deus a minha gota de água.
Florbela Espanca
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Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
António Gedeão

Dia Internacional das Florestas 2015

Hoje, 21 de Março, é Dia Internacional das Florestas. 


A origem do dia está explicada no sitio da internet ICNF:

" No Nebrasca (EUA), em 1872, face à escassez de árvores e florestas, a população decidiu dedicar um dia à plantação de árvores. Inicialmente, a comemoração não tinha um dia fixo.
Muitos países se seguiram nesta iniciativa, tendo a primeira "Festa da Árvore" sido comemorada em Portugal, em 1907, estendendo-se estas comemorações, sobretudo durante o período inicial da 1.ª República, até 1917.
Em dezembro de 1970, no âmbito das comemorações do Ano Europeu da Conservação da Natureza, foi retomada a celebração oficial do “Dia da Árvore”, por proposta da então Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e da Liga para a Protecção da Natureza. 
A Festa passou da Árvore à da Floresta quando, em 1971, a FAO estabeleceu o "Dia Mundial da Floresta" com o objetivo de sensibilizar as populações para a importância da floresta na manutenção da vida na Terra. Como consequência, em Portugal, em 1974, foi celebrado o primeiro “Dia Mundial da Floresta”, tendo sido escolhida, como em muitos outros países do hemisfério norte, a data de 21 de março, o primeiro dia de primavera. 
Em 30 de novembro de 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução que declara o dia 21 de março de cada ano como Dia Internacional das Florestas, encarregando o Secretariado de, em colaboração com os governos e as demais organizações internacionais e da ONU, organizar anualmente as comemorações do Dia Internacional. "


A minha contribuição neste dia fez-se através da participação no projecto "Uma árvore pela Floresta", que hoje plantou mais de três mil árvores e arbustos nas serras do Norte de Portugal. Todas as informações aqui: http://umaarvorepelafloresta.quercus.pt/.

sexta-feira, 20 de março de 2015

A exuberância do Equinócio

O equinócio da primavera está quase a chegar e, assim, começa mais uma Primavera no Hemisfério Norte. O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) diz-nos tudo sobre o assunto:
"Em 2015 o Equinócio da Primavera ocorre no dia 20 de Março às 22h45min. Este instante marca o início da Primavera no Hemisfério Norte. Esta estação prolonga-se por 92,75 dias até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de Junho às 17h38min. Os instantes estão referenciados à hora legal.
Sobre a duração igual das noites no equinócio, na realidade, não é bem assim… Os equinócios estão definidos como o instante em que o ponto central do sol passa no equador e, por isso, o centro solar nasce no ponto cardeal Este e põe-se exactamente a Oeste, encontrando-se durante 12 horas acima do horizonte matemático em qualquer lugar da Terra nestes dias.
Equinócio: instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, passa no equador celeste. A palavra de origem latina aequinoctium agrega o nominativo aequus (igual) com o substantivo noctium, genitivo plural de nox (noite). Assim significa “noite igual” (ao dia), pois nestas datas dia e noite têm igual duração, tal é a ideia que permeia a sociedade.
Contudo este facto não resulta numa duração do dia solar de 12 horas, pois a luz directa no chão surge quando o bordo superior do sol nasce, tal como desaparece no ocaso, e o sol tem um diâmetro aparente de 32′ (minutos de arco). Além disso há refracção atmosférica: quando o bordo superior está no horizonte o centro do sol encontra-se ≈50′ abaixo do horizonte, mais do que o seu diâmetro.
Com estas condições físicas e devido ao movimento da translação terrestre, logo no dia 17 de Março de 2015 haverá 12,00 horas com luz solar directa no solo. Nesse dia o disco solar nasce às 6h 46min e põe-se às 18h 45min em Lisboa, muito próximo das 12h certas."
http://oal.ul.pt/equinocio-da-primavera-2015/

Também hoje ocorreu um eclipse total do Sol que foi visível como eclipse parcial em todo o território português. O eclipse total foi apenas visível no extremo norte do oceano Atlântico, nas Ilhas Faroé, Svalbard e região Ártica. 
Mais informações também no site do OAL, aqui.

Mas não ficamos apenas pelo eclipse solar. O OAL diz-nos mais:
"Para além do eclipse solar de 20/03/2015 há dois outros fenómenos astronómicos que concorrem para a formação de supermarés. No dia anterior ao eclipse a Lua estará no ponto orbital mais próximo da Terra, o perigeu, o que aumenta a força diferencial δfL que exerce à superfície da Terra. Por outro lado, o eclipse é no dia do equinócio da Primavera, quando o Sol e a Lua estão no equador celeste e ambos δfL e δfS aumentam, pois a distância ao eixo de rotação do planeta é máxima nas localidades no equador.No dia 19 de março às 19h38m a Lua estará no perigeu, no dia 20 de março há máximo do eclipse às 9h01m com a Lua Nova às 9h36m e o instante do equinócio às 22h45m. Esta coincidência acontecerá novamente no eclipse total do Sol a 20 de Março de 2034, no equinócio e próximo do perigeu lunar.Com esta conjunção de fatores, a amplitude das marés será a maior do ano: uma supermaré. A situação de supermarés manter-se-á durante o período de 19 a 23 de março. " http://oal.ul.pt/supermare-de-marco2015/
E para finalizar celebremos a entrada na Primavera com poesia:

Equinócio
Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato

Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena

Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo

Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
David Mourão-Ferreira


Primavera
As heras de outras eras água pedra
E passa devagar memória antiga
Com brisa madressilva e primavera
E o desejo da jovem noite nua
Música passando pelas veias
E a sombra da folhagem nas paredes
Descalço o passo sobre os musgos verdes
E a noite transparente e distraída
Com seu sabor de rosa densa e breve
Onde me lembro amor de ter morrido
- Sangue feroz do tempo possuído
Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 19 de março de 2015

Senta-te aí

Porque é Dia do Pai, uma canção do projecto Rio Grande, com letra de João Monge, aqui na versão acústica de Jorge Palma & João Gil:


quarta-feira, 18 de março de 2015

O teu sorriso...a aprender a ser feliz...nas águas de Março

Mais um dia com poesia e música:


primeiro o teu riso
"...
Ri-te da noite, 
do dia, da lua, 
ri-te das ruas 
curvas da ilha, 
ri-te deste rapaz 
desajeitado que te ama, 
mas quando abro 
os olhos e os fecho, 
quando os meus passos se forem, 
quando os meus passos voltarem, 
nega-me o pão, o ar, 
a luz, a primavera, 
mas o teu riso nunca 
porque sem ele morreria."
Pablo Neruda 

depois aprender a ser feliz...


...nas Águas de Março, de Tom Jobim, na voz de Elis Regina (faria 70 anos a 17 de Março)

18 de Março de 1964

Uma data histórica para qualquer sportinguista; neste dia assistiu-se à "remontada" do SCP sobre a mítica equipa do Manchester United na caminhada para a conquista da Taça das Taças:


sábado, 14 de março de 2015

TAP 70 anos

A TAP faz 70 anos. A sua fundação está ligada a uma acção primordial de Humberto Delgado, figura política incontornável do século XX português, particularmente como opositor à ditadura Salazarista do Estado Novo (recentemente cumpriram-se 50 anos sobre o assassinato do general às mãos da PIDE).  Agora a "nossa companhia de bandeira" vai ser privatizada (ups!), precisamente quando já atingiu a sua  idade sénior. 

"A TAP – ou mais especificamente, a Secção de Transportes Aéreos – é criada a 14 de Março de 1945 pela mão de Humberto Delgado, à data director do Secretariado da Aeronáutica Civil. É neste ano que são adquiridos os primeiros aviões – dois aviões DC-3 Dakota com capacidade para 21 passageiros. No ano seguinte, são criadas definitivamente as condições necessárias para a companhia começar a operar, através da realização do Curso Geral de Pilotos. São, então, inauguradas as duas primeiras linhas aéreas: a primeira linha comercial Lisboa-Madrid abre a 19 de Setembro de 1946. Mais tarde, a 31 de Dezembro, é inaugurada a “Linha Aérea Imperial” que serve a rota Lisboa-Luanda-Lourenço Marques que contaria com 12 escalas, cerca de 15 dias de duração (ida e volta) e 24540 quilómetros de extensão. Até ao termo da década de 40, outras rotas são criadas: Paris (1948), Londres (1949) e Sevilha (1948).


No âmbito das iniciativas do seu 70º aniversário, a TAP lançou um novo vídeo de instruções de segurança. com a participação de um grupo de pessoas, dos 7 aos 70 anos.
"O vídeo retrata o percurso destes passageiros, desde o local de residência até ao avião, culminando na partida para o voo, que se realizou no percurso Lisboa - Terceira - Lisboa. Ao longo do percurso, estes passageiros vão lembrando as regras, como se eles próprios estivessem a memorizá-las antes de entrar no avião."

sexta-feira, 13 de março de 2015

As razões dos trabalhadores da função pública

Hoje os trabalhadores da função pública fizeram greve, com níveis de adesão muito elevados. As razões para fazer greve são muitas (nas últimas décadas nunca foram tantas). Se não as conhecermos, este excelente texto de Eugénio Rosa, recentemente publicado, evidencia algumas, com a vantagem de ainda nos ajudar na avaliação do tempo trágico em que vivemos:
"...Entre 31 de Dez.2011 e 31.Dez.2014, segundo “A Síntese Estatística do Emprego Público (SIEP)” da DGAEP do Ministério das Finanças, divulgada em Fevereiro de 2015, o numero de trabalhadores da Função Pública diminuiu em 71.365. Se adicionarmos os que saíram ou foram despedidos durante todo o ano de 2011 e os de 2015, este numero certamente terá já ultrapassado os 100.000. É evidente que esta enorme redução tem efeitos dramáticas na prestação de serviços à população, até porque ela atingiu profissionais que são fundamentais para o bom funcionamento dos serviços públicos (professores: -23.089; assistentes operacionais: -21.834; assistentes técnicos administrativos: -10.892; enfermeiros: -2.107; etc.). Os serviços públicos não funcionam sem trabalhadores, é uma verdade elementar que é muitas vezes esquecida. 
Segundo dados dos Relatórios dos Orçamentos do Estado, entre 2011 e 2015, as despesas com pessoal das Administrações Públicas (Central, Local e Regional) sofreram um corte de 27,9% (menos 4.680,3 milhões €), pois passaram de 16.793,2 milhões € para apenas 12.113,5 milhões €, enquanto os encargos (juros) com a divida pública, sofreram, no mesmo período, um aumento de 25,5%. Em quatro anos apenas, os portugueses pagarão aos credores (o maior é certamente a Alemanha) 37.834,1 milhões € só de juros. Uma parcela é paga à custa certamente dos enormes cortes feitos nas despesas com pessoal nas Administrações Públicas. Dizer, como alguns continuam a afirmar, que a divida é sustentável e que ela não constitui um obstáculo sério ao desenvolvimento do país e ao emprego é, no mínimo, cegueira e irresponsabilidade. 
Entre 2010 e 2015, segundo dados do Ministério das Finanças, o ganho médio liquido mensal real dos trabalhadores da Função Pública diminuiu em 18,2%, mas o ganho médio liquido real hora (valor hora) dos mesmos trabalhadores reduziu-se em 28,4%. E isto porque, durante o mesmo período, o seu horário de trabalho semanal aumentou de 35 horas para 40 horas, mantendo-se a mesma remuneração e cortes. Em 2015, os 655.000 trabalhadores da Função Pública farão 150,6 milhões de horas de trabalho gratuito, o que corresponde a 1.603,8 milhões € que não receberão. Mas não se pense que os cortes se limitaram apenas às despesas com pessoal. Entre 2011 e 2015, as despesas públicas com a educação e ensino superior, com a saúde (SNS) e com prestações sociais foram reduzidas pela “troika” e pelo governo em 2.057 milhões €. Estes cortes enormes neste tipo de despesas tiveram consequências dramáticas para a generalidade dos portugueses, nomeadamente para os de baixos rendimentos ou que perderam os rendimentos, por terem perdido o emprego..."

Texto completo aqui: http://www.eugeniorosa.com/Sites/eugeniorosa.com/Documentos/2015/6-2015-degradacaoAP.pdf

domingo, 8 de março de 2015

Mulheres

Porque hoje é dia Dia Internacional da Mulher: 
- um pensamento de José Saramago, em 2007  (in 'L'Orient le Jour),

As Mulheres São Mais Fortes

Para começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no género masculino. Todos os poderes políticos, económicos, militares são assunto de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação? 

- e uma canção de Chico Buarque: