Faz esta noite 50 anos (Novembro de 1967), na noite de 25 para 26 abateu-se sobre a região de Lisboa uma tempestade de chuva torrencial. Em
alguns locais do distrito, a água chegou a concentrar-se num volume de
170 litros por metro quadrado, e na
estação meteorológica da Gago Coutinho, em Lisboa, foram registados
115,6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas (cerca de 22% da média anual). O ano até
tinha sido relativamente seco e ninguém esperava que a chuva que
começou a cair com maior intensidade ao princípio daquela noite fria desembocasse numa tragédia
apenas comparável ao Terramoto de 1755. A chuva que caiu sem parar e intensamente durante algumas horas teve origem numa depressão que percorreu
todo o Vale do Tejo, afetando tragicamente os
concelhos de Loures e de Vila Franca de Xira, mas também Odivelas, Oeiras, Cascais, Lisboa, Arruda ou Alenquer. Milhares de pessoas ficaram
desalojadas, inúmeras habitações ficaram destruídas e, diz-se, mais de 700
pessoas terão perdido a vida. Só a povoação de Quintas, próximo de Castanheira do Ribatejo, perdeu 100 dos seus 156 habitantes. Os dados oficiais apontaram para mais de quatrocentas vítimas mortais, mas certamente que o número de mortos foi mais elevado, porque a censura da ditadura de Salazar não deixou passar a verdade e fez com que os jornais parassem de contar os mortos quando a
contabilidade passou as primeiras centenas. O que essa noite inequivocamente mostrou foram as condições miseráveis em que viviam grande parte dos portugueses que haviam migrado do interior para a região de Lisboa em procura de melhores condições de vida. Com o êxodo rural do final dos anos 50 e inicio dos 60 do século passado, a região não estava preparada para receber tanta gente, que pacificamente invadiu a periferia da capital, ocupando leitos de cheia, fixando-se em barracas construídas nas margens de ribeiras e rios. Na verdade os portugueses pagavam a primeira grande fatura do abandono dos campos, mas passados 50 anos continuamos a pagar faturas dessa desertificação, agora no interior do país com o drama dos incêndios rurais.
Ficam aqui alguns apontamentos sobre esse momento trágico que definitivamente mudou a perceção de muitos portugueses em relação ao seu país e ao regime que então (des)governava Portugal.
Ficam aqui alguns apontamentos sobre esse momento trágico que definitivamente mudou a perceção de muitos portugueses em relação ao seu país e ao regime que então (des)governava Portugal.
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