domingo, 21 de junho de 2015

Solstício de Verão 2015

Ao que nos é dado saber, o Solstício de Verão começou hoje (21 de Junho de 2015), pelas 16h38m; marca o início do Verão e define-se como o momento em que o Sol, assim como o vemos a partir da Terra, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do Equador. Solstício significa "sol parado", uma vez que para o observador que está na Terra, o sol parece manter uma posição fixa ao nascer e ao se pôr, durante algum tempo. Este Solstício acontece duas vezes por ano, em Junho no Hemisfério Norte e em Dezembro no Hemisfério Sul, definindo uma mudança de estação que, no caso, representa o inicio do Verão.


E agora que os dias vão cada dia ficar com menos horas de sol (logo agora no Verão!), recordo o "Entardecer dos Dias de Verão":
No entardecer dos dias de Verão, às vezes, 
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece 
Que passa, um momento, uma leve brisa... 
Mas as árvores permanecem imóveis 
Em todas as folhas das suas folhas 
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão, 
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria... 
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem! 
Fôssemos nós como devíamos ser 
E não haveria em nós necessidade de ilusão ... 
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida 
E nem repararmos para que há sentidos ... 
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo 
Porque a imperfeição é uma cousa, 
E haver gente que erra é original, 
E haver gente doente torna o Mundo engraçado. 
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos, 
E deve haver muita cousa 
Para termos muito que ver e ouvir ... 
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI" , Heterónimo de Fernando Pessoa 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A propósito das privatizações

Quando olho para a veia privatizadora dos últimos anos logo surgem as palavras sábias de Saramago. Agora que passam cinco anos sobre a sua morte (18 de Junho) é oportuno recordar a este propósito o texto de José Saramago sobre as privatizações, em Cadernos de Lanzarote – Diário III:

“Regressados de uma viagem à Argentina e Bolívia, os meus cunhados María e Javier trazem-me o jornal Clarín de 30 de Agosto. Aí vem a notícia de que vai ser apresentada ao Parlamento peruano uma nova lei de turismo que contempla a possibilidade de entregar a exploração de zonas arqueológicas importantes, como Machu Picchu e a cidadela pré-incaica de Chan-Chan, a empresas privadas, mediante concurso internacional. Clarin chama a isto “la loca carrera privatista de Fujimori”. O autor da proposta de lei é um tal Ricardo Marcenaro, presidente da Comissão de Turismo e telecomunicações e Infra-Estrutura do Congresso peruano, que alega o seguinte, sem precisar da tradução: “En vista de que el Estado no ha administrado bien nuestras zonas arqueológicas – qué pasaría si las otorgaramos a empresas especializadas en otros países con gran efectividad?
A mim parece-me bem. Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan, privatize-se a Capela Sistina, privatize-se o Pártenon, privatize-se o Nuno Gonçalves, privatize-se a Catedral de Chartres, privatize-se o Descimento da Cruz, de Antonio da Crestalcore, privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela, privatize-se a Cordilheira dos Andes, privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.”
Os Cadernos de Lanzarote são uma reunião dos diários de Saramago escritos, no período de 1993 a 1995, na ilha de Lanzarote (Canárias) onde viveu com sua mulher Pilar.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Portugueses

No Dia de Portugal,

"Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas." Padre António Vieira

"Quando se vive de ilusões é porque algo não funciona. A nossa imagem (dos portugueses) mais constante é a de alguém que está parado no passeio à espera de que o ajudem a atravessar para o outro lado." José Saramago, ao Expresso(2008)

"Este país (Portugal) preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez em quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa."  José Saramago, ao Jornal de Letras, Artes e Ideias (1999)

"Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto." António Lobo AntunesLer (1997)

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Fernando PessoaLivro do Desassossego