A 17 de Janeiro de 1995 partiu Torga, ou mais precisamente Adolfo Correia da Rocha, que em 1934 adoptou o pseudónimo de Miguel Torga, em homenagem aos vultos espanhóis Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno, e ainda à torga, essa planta brava que deita raízes sob a aridez da rocha.
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(Fonte:Farrapos de Memória) |
Sempre admirei Torga, sem dúvida os dos maiores escritores portugueses, um amante da liberdade. Recorro-me muitas vezes da sua poesia, mas hoje fico-me pelos indignados e por parte de um artigo que Maria Ramos Silva escreveu no jornal i:
"...Ninguém esqueceu a "Mensagem" do poeta. Como ninguém esqueceu as prescrições do senhor doutor, os seus ecos do Marão, da terra, das gentes rurais, das searas, das vinhas, da natureza em movimento perpétuo. Ninguém esqueceu a voz inconformada de um país rochoso, com muita pedra por partir; um Portugal feito cântico em cada linha. O mesmo que demorou a entender a raiz humana desses "Bichos" (1940), nascidos para lentidão de uma polícia política sem génio para ler, quanto mais nas entrelinhas.
Pode descansar o rústico ilustre que colaborou e rompeu com a revista "Presença", que se estreou na poesia com "Ansiedade", pelos 20 anos, que deixou matéria para generosa antologia, que martelou as teclas da máquina ao serviço da prosa, que assinou peças para os palcos, que actualizou os seus diários com memórias e crítica social até vésperas da despedida. Dividiu a vida entre a especialidade de otorrino e a literatura, a narrar recordações, a infância em Trás-os-Montes, as paisagens, a primeira viagem por uma Europa dominada pelo fascismo, o encontro com exilados em Paris, a luta contra o Estado Novo, a guerra civil espanhola, a sua experiência atrás das grades durante o regime de Salazar. Momentos fixados pelo primeiro escritor a receber o Prémio Camões (1989) em "A Criação do Mundo", registo em vários volumes, de carácter biográfico com elementos fictícios, que começou a imprimir em 1937, e que se estendeu até 1939, aqui e ali "esmagado pela bota opressora" da censura, fruto das "ideias subversivas" que lhe mostraram o caminho para o isolamento no Aljube. "Em matéria literária, o meu desespero nunca desespera", confessa o escritor, que entre 1942 e 1943 assume o risco e continua a editar-se a si próprio. Chegam os contos e "Novos Contos da Montanha" (1944), mais páginas dos seus diários, poemas ibéricos e os versos de "Orfeu Rebelde" (1958)..."
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