terça-feira, 15 de setembro de 2015

250 anos do nascimento de Bocage

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765 (por esse motivo é feriado municipal neste dia), tendo falecido, em Lisboa, a 21 de Dezembro de 1805
Era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier L'Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era o Almirante francês Gil Hedois du Bocage, que chegara a Lisboa em 1704, para reorganizar a Marinha de Guerra Portuguesa. 
Faz hoje 250 anos sobre o seu nascimento, uma data "redonda" que foi assinalada com o hastear da bandeira no edifício da Câmara Municipal de Setúbal, dando assim o"pontapé de saída" de umas comemorações que se vão prolongar por todo o ano na cidade do Sado (não só), com um programa de comemorações que inclui colóquios, cinema, teatro, sessões de poesia e lançamentos de livros, entre outras iniciativas. 
O objectivo é dar a conhecer Bocage, no fundo trazer o poeta para o século XXI, com o intuito de contrariar os estereótipos à sua volta, divulgando e internacionalizando a obra de um poeta que Daniel Pires, presidente de Centro de Estudos Bocageanos, compara a Camões e Pessoa. Nas palavras deste especialista e comissário das comemorações, Bocage foi um "poeta e pessoa da transgressão", e explica que Bocage "transgrediu quer literariamente quer no seu quotidiano, frequentando a boémia, optando pelos valores da revolução francesa, criticando o chamado 'antigo regime' da época e daí ter estado encarcerado várias vezes".
Também a Biblioteca Nacional se vai associar às comemorações, evocando o poeta, o tradutor, o dramaturgo e o cidadão, com a Exposição "Da inquietude à transgressão: eis Bocage…" patente ao público de 17 de Setembro a 31 de Dezembro 2015.
Auto retrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
— Bocage

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